luminoso horizonte

Por sob o luminoso horizonte da domesticação escolar humana, Nietzche - que leu com a mesma atenção Darwin e São Paulo - apercebe-se de um horizonte mais sombrio. Pressente o espaço em que começarão inevitavelmente as lutas pelos direitos da cria humana, e neste espaço se mostra o outro rosto, o rosto oculto da clareira. Quando Zarastustra passeia na cidade em que tudo se tornou pequeno, descobre o resultado de uma política de boa criação até então bem sucedida e inquestionada: parece-lhe que, com a ajuda de uma hábil mistura de ética e genética, os homens conseguiram criar uma nova variante humana, mais pequena. Eles mesmos se sujeitaram à domesticação, e à escolha da criação que leva a um comportamento doméstico. Deste reconhecimento surge a própria crítica zaratustriana do humanismo como recusa da falsa inocência em que se envolve o homem moderno, pretensamente bom. De facto, não é nada inocente que os homens escolham criar os homens para a inocência. A prevenção de Nietzche contra toda a cultura humanista assenta na descoberta do segredo da domesticação da humanidade. Quer chamar pelo seu nome os até hoje detentores do monopólio da criação - o sacerdote e o mestre, que se apresentam a si próprios como amigos do homem -, revelar a sua função silenciosa, e desencadear uma luta, nova na história mundial, entre diversos programas de criação e diversos educadores.


Peter Sloterdijk, Regras Para o Parque Humano