A redenção não é um acontecimento em que aquilo que era profano se torna sagrado e aquilo que tinha sido perdido é encontrado. A redenção é, pelo contrário, a perda irreparável do perdido, o definitivo carácter profano do profano. Mas, precisamente por isso, eles atingem agora o seu fim - um limite advém.

Apenas podemos ter esperança naquilo que é sem remédio. Que as coisas estejam assim ou de outra maneira - isto é ainda o mundo. Mas que isto seja irreparável, que o assim seja sem remédio, que nós possamos contemplá-lo como tal - isto é a única passagem para fora do mundo. (O carácter mais íntimo da salvação: que sejamos salvos só no instante em que já não queremos sê-lo. Por isso, nesse instante, existe salvação - mas não para nós.)


Giorgio Agamben, A comunidade que vem, trad. António Guerreiro