Estava a bela Infanta, no seu jardim assentada,
com um pente d’ ouro fino, seus cabelos penteava.
Deitou os olhos ao mar, viu vir uma grande armada,
capitão, que nela vinha, muito bem que a governava.
– Dizer-me vós, capitão, dessa tão formosa armada,
se vistes o meu marido, na terra que Deus pisava.
– Mas dizer-me vós, senhora, os sinais que ele levava.
– Levava cavalo branco, selim de prata dourada,
na ponta da sua lança, a cruz de Cristo levava.
– Os sinais que dás senhora, tal cavalheiro não vi.
– Quanto darás senhora, a quem o trouxesse aqui?
– Deria tanto dinheiro, que não tem conto nem fim,
as telhas do meu telhado, que são d’ ouro e marefim.
– Guardai lá as vossas telhas, não me estão dadas a mim,
sou capitão, vou prà guerra, não sei o que é de mim.
– Mas quanto darás, senhora, a quem o trouxesse aqui?
De três filhinhas que tenho, tod’ as três lhe dava a si.
Uma para ó despir, a outra prò descalçar,
e a mais bonita de todas para consigo casar.
– Já na’ tenho mais que peça, nem a senhora que dar,
dê-me o seu corpo gentil, para comigo noitar.
E o anel das sete pedras, que contigo reparti?
Mostra-me a tua metade, que a minha vês a aqui.
– Se eras o meu marido, pra que m’ estavas enganando?
– Todas as mulheres são falsas, ê’ ‘tava-te experimentando.
– Venham cá ó minhas filhas, que o vosso pai é chegado.
Abra-se o nosso portão, que há tantos anos fechado,
vamos dar graças a Deus, graças a Deus consagrado.
ouvido pela voz de Mariana Bicho, residente na Salvada, Beja