Qualquer tolo se pode atirar ao oceano,
Mas só uma Deusa o pode tirar de lá.
O que é verdade para oceanos é verdade, claro,
Para labirintos e poemas. Quando começas a nadar
Pelos rápidos dos ritmos e nas algas da metáfora
Tens de ser um grande nadador ou ter nascido um deus
Para sair de lá.
Repara nas lontras a dançar desvairadamente
No meio do poema
A brincar serenas e entusiasmadas
    onde a água mal se mexe
Podes ir através das ondas e das pedras
tocar-lhes no meio do poema
Mas depois de experimentares longamente
A água abençoada e quiseres voltar para trás
É que começa a diversão
A não ser que sejas poeta ou lontra ou algo sobrenatural
Afogar-te-ás amigo. Afogar-te-ás.
Qualquer grego te pode levar ao labirinto
Mas é preciso um herói para sair de lá
O que é verdade para os labirintos é verdade, claro,
Para o amor e para a memória. Quando te começas a lembrar.


Jack Spicer
trad. Ricardo Norte