Fiquem. Tenho medo, Galloudec, da beleza do mundo. Eu sei bem que ela é a máscara da traição. Não me deixem a sós com a minha máscara que já me entra pela pele e deixou de doer. Matem-me antes que vos traia. Sasportas, tenho medo da vergonha que é ser feliz neste mundo.

[diz o Debuisson do Müller pouco antes do cair do pano]


O cocktail Molotov é o último acontecimento cultural da burguesia. Que resta? Textos solitários à espera de história. E a memória esburacada, a sabedoria frágil das massas logo ameaçada pelo esquecimento. Num terreno onde a DOUTRINA está tão profundamente enterrada, e ainda por cima minado, é preciso por vezes enfiar a cabeça na areia (massa pedra) para continuar a ver. As toupeiras ou o derrotismo construtivo.

Heiner Müller, final de carta datada a 4/1/1977