presença comum

Tu estás com pressa de escrever
Como se estivesses atrasado para a vida
Se assim é acompanha as tuas fontes

Apressa-te
Apressa-te a transmitir
A tua parte de maravilhoso de rebelião de bondade
Efectivamente tu estás atrasado para a vida
A vida inexprimível
A única no fim de contas à qual tu aceitas unir-te
A que te é recusada todos os dias pelos seres e pelas coisas
De que tu obténs penosamente aqui e ali fragmentos descarnados
Ao fim de combates implacáveis
Fora dela tudo é agonia submissa fim grosseiro
Se encontrares a morte durante o teu labor
Recebe-a como a nuca em suor acha bom o lenço árido

Inclinando-te
Se queres ir
Oferece a tua submissão
Nunca as tuas armas

Tu foste criado para momentos pouco comuns
Modifica-te desaparece sem remorso
Ao gosto do rigor suave

Bairro a bairro prossegue-se a liquidação do mundo

Sem interrupção
Sem desvios

Espalha o pó
Ninguém revelará nossa união


René Char, trad. António Ramos Rosa