Sou o pássaro dos espaços negativos.
Canto em refeitórios, no chão desinfectado
após o expediente. Morro
sem migalhas sobre mesas de metal.
Oferecem-me às crianças. Canto entre pequeninas mãos
com um doce som de cartilagens o silêncio
da chuva
e do ódio, osso
manso e calibrado que se forma
quando chove
ao redor da minha voz.

Os meus sonhos sedimentam os meus sonhos.
Vejo o mundo em polegadas
limpas como as impressões de um deus.
Vejo livros como escamas mortas,
leio como quem devolve
a memória a um frémito vegetal.

Sou um pássaro de antigas rondas negativas.
O meu rosto é toda a luz, rodeado pela terra
escura qu'inda agora estive a abrir. O meu rosto
manso e calibrado
é o osso
turvo
extraído ao escuro,
o último lugar.


Tristan Khouri