Quanto a mim proponho outra palavra, mais estranha e paradoxal, mas muito poética e, creio, filosoficamente muito apropriada. É uma palavra pedida de empréstimo ao vocabulário dos trovadores da Idade Média por Pier Paolo Pasolini: é a palavra italiana abgioia. Impossível saber se, nesta palavra, o ab é algo que priva e sugere a ausência de alegria, gioia (como em «apátrida» o a sugere a sugere a privação de pátria), ou se é algo que intensifica e sugere uma alegria superior (como em «aparentado» o a confirma o estreitamento dos laços de parentesco). Isso diz-nos talvez que as emoções serão sempre secretamente duplas, tal como um corpo vivo tem necessidade de substâncias duras como os ossos, tanto quanto de substâncias moles como a carne. Cabe-nos a nós, se quisermos reflectir, encontrar tanto os traços de inquietude no coração das nossas alegrias presentes, como as possibilidades de alegria no coração das nossas tristezas do momento.

Georges Didi-Huberman, Que emoção! Que emoção?, trad. Mariana Pinto dos Santos