Entre as pessoas que exercem profissões humildes, entre o instalador de tochas, o encantador de bócios, o apagador de ruídos, por encanto pessoal e da sua ocupação sobressai o Pastor de Água.
O Pastor de Água assobia a uma fonte, e lá sai ela do leito para ir atrás dele. Vai atrás dele e engrossa com a passagem de outras águas.
Às vezes o pastor prefere manter o riacho tal qual é, de pequenas dimensões, só colectando aqui e além o necessário para se não extinguir, tendo cuidado, sobretudo, quando passa por terrenos arenosos.
Vi um destes pastores - eu não o largava, fascinado - que a si próprio e só com um ribeiro de nada, com um fio de água tão largo como uma meda de palha, deu o prazer de atravessar um grande e taciturno rio. Como as águas se não misturavam, apanhou na outra margem o seu ribeiro intacto.
Proeza que não é para o primeiro ribeirador que apareça. As águas iriam num instante misturar-se e ele teria de procurar noutro lado uma nova fonte.
De qualquer modo, uma corrente de rio necessariamente terá de sumir-se mas sobrará quanto baste para dar banho a um pastor ou encher um fosso vazio.
Mas que ele não demore pois, muito enfraquecida, ela está prestes a morrer. É uma água «passada».


Henri Michaux, No País da Magia