o cemitério das cruzes ferrugentas

Maioletto é uma aldeia desaparecida da face da terra uma noite em que chovia a cântaros e a montanha se rachou ao meio. Metade ainda está de pé, mas a outra, onde estavam as casas, os homens e os animais, ficou toda encerrada dentro das fendas.
Abaixo da grande fraga que restou, há um cemitério com cruzes deitadas na erva ou encostadas aos muros que fazem um quadrado.
Um rapaz e uma rapariga, que passeavam a ver as árvores floridas, chegaram ao meio daquele silêncio para tentar ler o que estava escrito nas grades. O tempo tinha devorado até as datas. Só ficaram cruzes ferrugentas, abandonadas pelos ossos e pelos nomes.
E eles escreveram qualquer coisa com um prego sobre aquela ferrugem, como se tivessem morrido lá dentro.


Tonino Guerra