8.

Uma vez, pela manhã, chega um cavaleiro, e depois um segundo, quatro, dez. Vestidos de ferro, grandes. Depois mil atrás deles: o exército.
Têm de separar-se.
«Bom regresso a casa, senhor marquês -»
«Que Maria vos proteja senhor fidalgo.»
E não conseguem largar-se. De repente são amigos, irmãos. Têm tantas coisas mais a confiar um ao outro; pois sabem já tanto um do outro. Hesitam. E há pressa e tropel em seu redor. É então que o Marquês tira a grande luva da mão direita. Puxa a pequena rosa, arranca-lhe uma pétala. Como se partisse ao meio uma hóstia.
«Isto dar-vos-á protecção. Adeus»
O de Languenau fica pasmado. Durante muito tempo segue com o olhar o francês. Então põe a estranha pétala debaixo da farda. E ela sobe e desce nas ondas do seu coração. Toque de clarim. Cavalga até às tropas, o fidalgo. Sorri tristemente: é protegido por uma mulher desconhecida.

12.

O de Languenau escreve uma carta, perdido em pensamentos. Traça lentamente, com letras grandes, sérias bem erguidas:

                 «Minha querida mãe,
           ficai orgulhosa: sou eu quem leva a bandeira,
           não vos preocupeis: sou eu quem leva a bandeira,
           gostai de mim: sou eu quem leva a bandeira - »

Então põe a carta na farda, no sítio mais escondido, junto da pétala de rosa. E pensa: daqui a nada vai ficar com o seu cheiro. E pensa: talvez alguém a encontre um dia... E pensa:...
Pois o inimigo está próximo.

--

(epílogo)

A farda ardeu no castelo, a carta e a pétala de rosa de uma mulher desconhecida. -
Na Primavera seguinte (chegou triste e fria) um mensageiro do Barão de Pirovano entrou lentamente a cavalo em Languenau. Ali viu chorar uma velha mulher.


Rainer Maria Rilke, A Balada de Amor e Morte do Porta-estandarte Cristoph Rilke, trad. Bruno C. Duarte