Distingo ruínas: horizonte
marítimo e aproximado
de pedras e palmeiras — remoçado
idílico jardim verde-azulado.
Na sombra, mas com fundo recortado,
um forte destruído pela intempérie,
pelo abandono do que já não serve,
tempo gasto.

Distingo ruínas: uma capela
serva dos donos que a destelharam,
onde jazem pedras, onde crescem ervas,
onde o culto se funde memória
dos tempos idos que ninguém difere,
senão o que passa preso à boca
dos familiares que a religaram.
Capela, um ar sereno, ilha:
arquitectura perene do espírito.

Distingo ruínas: só de casas
que ainda servem aos a quem nada cabe
dos frutos da terra e coabitam
remanescentes ao dia habitado
pela relação que os une e pela desdita
que não abjura presente, passado.
São de antigos escravos essas casas,
hoje libertos, donos d'ar e timbre.


Ruy Cinatti